Pequena Coreografia do Adeus: A Dor, a Poesia e a Busca por Pertencimento
Um romance visceral sobre laços frágeis, ausências irreparáveis e o amadurecimento marcado pela solidão
Veredito: Meu único arrependimento foi não ter lido antes!
Um romance poético sobre dores que moldam, distâncias que permanecem e a busca por pertencimento.
Amo quando leio um livro curto e impactante. Li Pequena Coreografia do Adeus em poucas horas, devorei cada página. Amei a escrita da Aline Bei e, sem dúvida, vou ler O Peso do Pássaro Morto ainda este ano.
Achei bem poético e profundo, com uma narrativa simples, interessante de acompanhar e dolorosa.
Nunca tinha lido um romance escrito em versos e fiquei impressionada com como essa escolha estilística intensifica a experiência. Os versos, ora longos, ora espaçados, não são apenas um recurso estético, mas uma extensão da própria protagonista e de sua jornada. Essa estrutura fragmentada reflete as lacunas emocionais de Júlia, suas dores, sua solidão e, principalmente, a relação turbulenta com a mãe. O texto respira com a personagem – em momentos de maior proximidade, os versos se adensam; nos de afastamento, eles se esvaziam, achei genial. Poesia pura!
Aline conseguiu abordar de forma visceral o peso de crescer em um lar marcado pela violência e pela ausência de afeto.
A infância e a adolescência de Júlia são conduzidas pelo desejo de ser amada, pelo esforço em caber nos espaços e afetos disponíveis – ainda que esses afetos sejam feridos e falhos. A solidão e a necessidade de reconhecimento se tornam fios condutores de uma narrativa que, apesar de dolorosa, é de uma sensibilidade arrebatadora. O livro me ganhou logo na dedicatória:
“para todos aqueles que procuram uma Casa dentro de casa
em especial aos que procuram desesperadamente.”
Amei acompanhar a Júlia e o desenvolvimento dela. Sua busca por pertencimento, os tropeços na vida adulta, os encontros e desencontros que a moldam – tudo isso me prendeu e me emocionou. No entanto, se há algo que senti falta foi de um aprofundamento maior nos relacionamentos saudáveis da protagonista. Entendo que a intenção do livro não era essa, mas acredito que esses laços poderiam ter dado ainda mais peso ao contraste com suas experiências traumáticas.
Dentre tantos momentos impactantes, destaco três passagens que, para mim, sintetizam bem a essência do livro:
"[...] amamos a possibilidade de a pessoa ser exatamente aquilo que projetamos nela. os estranhos não nos doem porque ainda não nos decepcionaram e se mantivermos tudo a uma boa distância: seguirão sendo essa doce incógnita." "[...] todas as situações que vivemos têm seu peso e sua sombra, ainda que sejam magníficas." "[...] ao longo dos anos e por trás de cada relação que eu estabelecesse me assombrava a certeza de que as pessoas se Abandonam muitas nem se amam, se casam por medo da Solidão e têm filhos pelos mesmos motivos."
Vale a pena ler?
Definitivamente! Recomendo muito para quem gosta de histórias curtas, mas marcantes, e para quem aprecia uma escrita que transborda poesia e emoção. Pequena Coreografia do Adeus é um livro que não apenas se lê, mas se sente – e suas palavras ficam ecoando dentro da gente por muito tempo.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
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Eu li O peso do Pássaro Morto já há alguns anos, este que me fez chorar tanto que demorei a pegar o segundo livro da Aline pra ler depois que saiu, mas, quando li finalmente, para mim foi tão impactante quanto o primeiro, a forma que a história é narrada deixa tudo ainda mais visceral. Excelente resenha, amei 💜